Colecionadora (y'

“Um dia me perguntaram se coleciono algo, e sem pensar respondi com franqueza “Coleciono decepções, meu caro”. Eu nunca havia dito tamanha verdade, talvez eu nunca tinha percebido o quão grande a minha coleção havia se tornado. Quando criança colecionava qualquer coisa; bonecas, livros e discos infantis, selos, broches e até cartões de telefone público. Tudo me fazia feliz, tudo me satisfazia. E hoje? As bonecas e os livros foram doados e os selos, broches e cartões foram perdidos na mudança. E o que restou de toda aquela felicidade? Digamos que nada. O tempo passou, todos cresceram, tanta coisa mudou, quanta história aconteceu para ser contada. E o que restou da infância? Para ser sincera, nem eu mesma. Eu mudei; me transformei, melhor dizendo. O meu cabelo, o meu corpo e talvez, até a minha essência mudou. Sou, praticamente, uma outra pessoa. Mas, sinceramente, venho sentindo saudade do meu “antigo eu”. Aquela garota que sorria e era capaz de enxergar felicidade nas coisas simples. Aquela que não via maldade nas coisas e só tinha ingenuidade no coração. Aquela que falava tudo o que realmente queria, e não escondia tudo atrás do silêncio. Como sinto falta de toda aquela sinceridade, toda aquela simplicidade e felicidade. Como sinto falta de todas aquelas amizades que não precisava prometer para me ajudar quando eu precisava. Definitivamente, as pessoas crescem e se tornam piores. A vida nos torna pior. Ao longo do tempo vamos aprendendo, da pior forma na maioria das vezes, que as pessoas mentem e que até nós mentimos, mesmo sem perceber. Aos poucos a gente vai aprendendo à não confiar e até à não ser confiável.Aos poucos a gente descobre o pior e o melhor que possamos ser.E aos poucos, a gente se torna ainda mais pior. Ao longo do tempo pegamos maldade nas coisas e tudo o que era doce se torna amargo. E tudo o que era bom, fica ruim. Aos poucos toda à nossa coleção de objetos velhos somem, estragam e a gente se esquece. Mas, felizmente, nunca deixamos de fazer coleções. Porém, infelizmente, já não temos boas coisas para colecionar. E acabamos por optar, ou somos obrigados, à colecionar o que realmente temos. E sabe o que realmente temos de sobra? Decepções. E é partir daí que nos tornamos verdadeiros colecionadores de decepções!”